O Supremo Tribunal Federal decidiu nesta quinta-feira adiar a decisão a
respeito do pedido de habeas corpus apresentado pelo ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para impedir sua prisão. Isso significa que, na próxima
segunda-feira, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgará o recurso do
petista, mas, se rejeitá-lo por unanimidade, como se supõe fará, não poderá
autorizar o encarceramento. A eventual prisão só se dará após a retomada da
sessão desta quinta, o que ocorrerá apenas em 4 de abril, por conta do feriado
da Páscoa.
Imediatamente após a decisão, as redes antipetistas foram tomadas de
indignação. O Movimento Brasil Livre, por exemplo, acusou o Supremo de estar
“acovardado”. Não está completamente errado, mas ainda é grande a chance de o
STF autorizar a prisão de Lula. O Vem Pra Rua disse que o ex-presidente será
“eternamente grato” ao STF por mais 13 dias de liberdade.
Lula é uma figura polarizadora e muitos desejam vê-lo na cadeia, mas no
caso desses grupos há um evidente intuito eleitoral. Ambos, assim como inúmeros
adversários políticos do petista, querem Lula inviabilizado para o pleito de
outubro.
Como cairá na Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado em segunda
instância, é muito improvável que Lula esteja presente em todo o processo
eleitoral. Mas a cadeia é uma vantagem para os rivais pois poderia neutralizar
parte da força do petista.
Parece razoável supor que um comício com Lula tenha mais público do que
um cujas figuras principais sejam Jaques Wagner ou Fernando Haddad. Da mesma
forma, um programa de rádio ou televisão que figure o ex-presidente tende a ter
mais impacto do que um estrelado por outros líderes petistas.
Cabe lembrar que Lula é o principal cabo eleitoral das eleições. Ainda
que, segundo o Datafolha de janeiro, 53% dos eleitores dizem que não votariam
no indicado do petista de forma alguma, 27% afirmam que o apoio de Lula levaria
a escolher o nome indicado “com certeza”. Para outros 17%, o apoio do petista
“talvez” faça escolher o candidato. São números capazes de levar a figura
ungida por Lula para o segundo turno com certa tranquilidade.
Com Lula na cadeia, o PT poderia fortalecer a narrativa do “mártir”, mas
como isso se transformaria em votos para o eventual novo nome do partido é uma
incógnita.
Independentemente do que se ache da Operação Lava Jato, hoje parece
evidente que seus resultados serviram a quem desejava afastar o PT do Palácio
do Planalto. Começou com a proibição de Lula assumir um ministério, passou pelo
impeachment de Dilma e chegou à inviabilização da candidatura do ex-presidente.
Falta agora a sua prisão. Quando o STF decidir sobre o caso, começará de vez a
eleição presidencial, a primeira desde a redemocratização em que o PT, pela
eventual ausência de Lula, pode não ser um fator tão decisivo.
Por José Antônio Lima
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