sexta-feira, 23 de março de 2018

AO ADIAR CASO DE LULA, STF DEIXA “INÍCIO" DAS ELEIÇÕES EM SUSPENSO


O Supremo Tribunal Federal decidiu nesta quinta-feira adiar a decisão a respeito do pedido de habeas corpus apresentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedir sua prisão. Isso significa que, na próxima segunda-feira, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgará o recurso do petista, mas, se rejeitá-lo por unanimidade, como se supõe fará, não poderá autorizar o encarceramento. A eventual prisão só se dará após a retomada da sessão desta quinta, o que ocorrerá apenas em 4 de abril, por conta do feriado da Páscoa.

Imediatamente após a decisão, as redes antipetistas foram tomadas de indignação. O Movimento Brasil Livre, por exemplo, acusou o Supremo de estar “acovardado”. Não está completamente errado, mas ainda é grande a chance de o STF autorizar a prisão de Lula. O Vem Pra Rua disse que o ex-presidente será “eternamente grato” ao STF por mais 13 dias de liberdade.

Lula é uma figura polarizadora e muitos desejam vê-lo na cadeia, mas no caso desses grupos há um evidente intuito eleitoral. Ambos, assim como inúmeros adversários políticos do petista, querem Lula inviabilizado para o pleito de outubro.

Como cairá na Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado em segunda instância, é muito improvável que Lula esteja presente em todo o processo eleitoral. Mas a cadeia é uma vantagem para os rivais pois poderia neutralizar parte da força do petista.

Parece razoável supor que um comício com Lula tenha mais público do que um cujas figuras principais sejam Jaques Wagner ou Fernando Haddad. Da mesma forma, um programa de rádio ou televisão que figure o ex-presidente tende a ter mais impacto do que um estrelado por outros líderes petistas.

Cabe lembrar que Lula é o principal cabo eleitoral das eleições. Ainda que, segundo o Datafolha de janeiro, 53% dos eleitores dizem que não votariam no indicado do petista de forma alguma, 27% afirmam que o apoio de Lula levaria a escolher o nome indicado “com certeza”. Para outros 17%, o apoio do petista “talvez” faça escolher o candidato. São números capazes de levar a figura ungida por Lula para o segundo turno com certa tranquilidade.

Com Lula na cadeia, o PT poderia fortalecer a narrativa do “mártir”, mas como isso se transformaria em votos para o eventual novo nome do partido é uma incógnita.

Independentemente do que se ache da Operação Lava Jato, hoje parece evidente que seus resultados serviram a quem desejava afastar o PT do Palácio do Planalto. Começou com a proibição de Lula assumir um ministério, passou pelo impeachment de Dilma e chegou à inviabilização da candidatura do ex-presidente. Falta agora a sua prisão. Quando o STF decidir sobre o caso, começará de vez a eleição presidencial, a primeira desde a redemocratização em que o PT, pela eventual ausência de Lula, pode não ser um fator tão decisivo.
Por José Antônio Lima

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