BLOG DO EDINHO SOARES: MENSAGEM DO VELHO AO MOÇO

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

MENSAGEM DO VELHO AO MOÇO

Você já foi criança um dia, mas, os anos se dobraram e fizeram de você um jovem, quase um adulto e agora você me olha com certo desprezo, só porque muitos anos se dobraram para mim e hoje sou um velho. Observa minhas mãos trêmulas e encarquilhadas e se esquece de que foram as primeiras a acariciar as suas mãos inseguras na infância.
 
Critica os meus passos lentos, vacilantes, esquecendo-se que foram eles que orientaram seus primeiros passos. Reclama quando lhe peço para ler uma palavra que meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão e esqueceu-se das várias palavras que repeti inúmeras vezes para que você aprendesse a falar.
Reclama da lentidão das minhas decisões, esquecendo-se de que suas primeiras decisões foram por elas balizadas. Diz que sou um velho desatualizado, mas confesso que pensei muito pouco em mim para fazer de você um homem de bem. Reclama da minha saúde debilitada, mas creia muito trabalho foi preciso para garantir a sua.
Rí quando não pronuncio corretamente uma palavra, mas eu lhe afirmo que me esqueci de mim mesmo, para que você pudesse cursar uma Universidade. Diz que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos, todavia, muitas foram às vezes que advoguei em seu favor nas situações difíceis em que se envolvia.
Hoje você cresceu...
É um moço robusto e a juventude lhe empolga as horas. Esqueceu sua infância, seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos, mas acredite tudo isso está bem vivo na memória deste velho cansado, em cujo peito ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora. É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta disso. Só notei naquele dia em que você me chamou de velho pela primeira vez e então olhei no espelho. Lá estava um velho de cabelos brancos, vincos profundos na face e certo ar de sabedoria que na imagem de ontem não existia.
Por isso eu lhe digo meu jovem, que o tempo é implacável e um dia você também contemplará o espelho e perceberá que a imagem nele refletida não é mais a que hoje você admira, mas, você sentirá que em seu peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso. Que o afeto que você cultivou não se desvaneceu. Que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos. Que as palavras amargas ainda lhe ferem com a mesma intensidade e que apesar dos longos invernos suportados, você não ficou frio diante da indiferença dos seres que embalou na infância.
Por isso que lhe aconselho meu filho, não ria nem blasfeme do estado em que eu estou eu já fui o que você é, e você será o que eu sou...
Aquele que despreza seus velhos é como galho que deixa o tronco que o sustenta tombar sem apoio. A ingratidão para com os que nos sustentaram na infância é semente de amargura lançada no solo, para colheita futura. Assim, façamos aos nossos velhos os que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já estiver bastante avançada.
Por - Luiz Donato Mesquita Donato

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