Em breve, Fabio Assunção será visto na série “Onde Está meu Coração”, da Globoplay, como o pai de uma médica dependente de crack, vivida por Letícia Colin. Dependência química é um assunto que o ator de 48 anos conhece bem, mas que ainda permanece um tabu. Em entrevista ao jornal “O Globo”, ele abre o jogo sobre o assunto, que considera ser tratado com hipocrisia pela sociedade.
“Sempre busco uma profundidade nas almas das personagens que faço, entender quem são essas figuras. E, quando fui convidado, vi essa possibilidade. É uma série que discute a família. Um dos grandes problemas da dependência é as pessoas terem vergonha de falar sobre ela, porque dificulta o processo de reequilíbrio”, afirmou.
Segundo ele, a série vai ter um papel importante de trazer o assunto para a discussão pública. “Qual é a dificuldade de entender que o vício faz parte dos buracos que a gente tem na alma? O vício não é uma questão de caráter, ou de escolha. Não é você aceitar uma propina. É impulsão, compulsividade. Não tem a ver com classe social. Não está ligado a pretos e pobres, de comunidades, que são absolutamente estigmatizados. A ilegalidade da droga é colocada como uma forma de você segregar toda uma população que é excluída do nosso sistema branco de consumo. A série vai trazer estas questões à tona. É uma hipocrisia a sociedade não falar sobre esse tema, uma vez que é uma sociedade que se medica o tempo todo, com produtos lícitos ou ilícitos”, disse.
O ator contou que largou a cocaína há uns cinco anos. “Hoje tenho uma vida absolutamente normal. Posso tomar uma taça de vinho? Posso. Dois copos de cerveja? Posso. Mas, se beber mais do que isso, vai me fazer mal. E sinto que preciso falar com as pessoas sobre isso. Porque sei o quanto o silêncio dificulta ainda mais o processo de evolução de qualquer pessoa, o quanto o silêncio afunda mais as pessoas nos seus medos e depressões”, explicou.
Segundo o intérprete, que em 2020 completa 30 anos de carreira, foi complicado administrar seu tratamento com a condição de celebridade. “Quando as coisas começaram a ficar difíceis, eu estava naturalmente exposto, porque estava fazendo uma novela (“Negócio da China”, de 2008) . Comecei a perder peso, a ficar mal, tive os meus atrasos, teve dia em que faltei, isso começou a se tornar público, era inevitável. A primeira vez em que falei para mim mesmo ‘preciso ir a algum lugar para cuidar disso’, tinha 29 anos, vim até um AA na Barra, escondido, sem falar com ninguém. Quando saí, tinha um paparazzo, ele fez uma foto minha, e saiu uma nota na imprensa: “Fabio Assunção foi no AA”. Não tive direito a um tratamento anônimo”, lembrou.
“Desde o primeiro passo que dei, já foi divulgado. E aí começa uma bola de neve, você entra num ciclo de estigma. Foi muito difícil não poder ter feito isso em silêncio. E começou a me dar a sensação de eu ter uma tarefa de falar sobre isso. Não foi uma escolha. Não decidi ser uma voz sobre este assunto. Aconteceu naturalmente. Já que estão falando, vamos falar direito”, analisou.
Recentemente, a condição de Fabio gerou uma exposição tremenda nas redes sociais, com a geração de memes e até uma música que fazia piada da situação. Ao ter um vídeo íntimo exposto na internet, seu filho mais velho, João, saiu em sua defesa.
“Ele tem muita consciência, uma compreensão muito grande para um cara de 16 anos. Ele escreveu sozinho, não perguntou pra mim, e postou. Se alguma coisa disso tudo tem que valer a pena, é (o fato de) reverter em conhecimento e respeito, consciência humana aos meus filhos”, comentou ele, que também é pai de Ella Felipa, de 8.
Do Yahoo
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