Ruralistas e simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), também pré-candidato à Presidência da República, usaram caminhões e tratores para bloquear o acesso da comitiva de Lula à Unipampa (Universidade Federal dos Pampas).
Manifestantes avançaram na direção da universidade, exigindo que a caravana usasse a via lateral do campus.
À saída, o petista teve que discursar sobre um carro de som estacionado ao lado do ônibus da comitiva, para que subisse rapidamente. Pela programação original, ele usaria um carro de som maior, onde ficaria mais vulnerável.
"Confesso que saio triste daqui. Porque não vi empresário ofendendo a gente. O que vi aqui foi pobres e trabalhadores, que, às vezes, estão até desempregados ganhando alguma coisa para ofender a gente", discursou o petista, após afirmar que não quer que o Brasil seja eternamente um exportador de soja.
Em um discurso de oito minutos, o ex-presidente chamou seus opositores de fascistas, acusando-os de constranger professores e alunos para que não o recepcionassem na universidade.
"Sinceramente, não esperava que nossa passagem por Bagé fizesse com que a direita fascista reclamasse junto ao MP [Ministério Público] que eu não pudesse fazer ato na universidade", disse. "Essas pessoas deveriam ter feito o protesto quando viemos criar a universidade."
A equipe do ex-presidente já esperava protestos contra a caravana de Lula no Sul, de tradição agropecuária e antipetista. Apesar de questionamentos de aliados, o petista, que já circulou por Nordeste e Sudeste, insistiu na ideia de incluir a região.
MUJICA
De Bagé, Lula foi a Santana do Livramento, na fronteira entre Brasil e Uruguai, onde encontrou o amigo e ex-presidente uruguaio José Mujica. Em conversa pública na Praça Internacional, que divide os dois países, Lula afirmou em tom de brincadeira: "Estou sendo processado. Poderia dar um pulo ali [no Uruguai]. Não dou. Mais dia menos dia, quem vai sair do país são meus acusadores".
Em outras oportunidades, o petista, condenado em segunda instância por corrupção, já descartou a possibilidade de fugir do país caso tenha a prisão decretada.
Lula afirmou ainda que seu problema pessoal é pequeno em comparação ao enfrentado por brasileiros. Também presente, o ex-presidente do Equador Rafael Correa discordou: "Uma injustiça que se comete contra um homem se comete contra a humanidade".
O encontro também teve a presença da ex-presidente Dilma Rousseff.
Durante a conversa entre os ex-presidentes na praça, Lula levou um puxão de orelha de Mujica, que disse ao brasileiro ser necessário fortalecer os partidos. "As mudanças não podem se respaldar em uma figura só."
"Sorte que têm Lula. Mas, na luta, não terão Lula eternamente", disse.
O uruguaio disse ainda que os partidos de esquerda têm que cuidar enormemente da conduta dos que os representam. "Se pregamos por igualdade temos que viver como o povo e não como uma minoria privilegiada", disse ele, antes de seu discurso ser interrompido por uma queda de luz. A atividade --segundo ponto da agenda de Lula no Rio Grande do Sul-- foi suspensa por dez minutos devido à falta de energia que atingiu a praça.
Ao assumir o microfone, Lula recorreu ao seu mantra: de que tem 72 anos de idade; energia de 30 e tesão de 20. "Se me deixarem, se for possível, e até quando o partido quiser, serei candidato a presidente". O petista disse ter se inspirado no exemplo de Mujica em muitas coisas, como na força ideológica e na honradez.
Paulo Lopes/Futura Press
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