Bom Jardim Triste ! ! ! Morre o Andarilho João Gordinho
Muitas Crianças ganhavam barquinhos de papel, ouviam histórias, cantos e versinhos feito com muito carinho por João Gordinho. O andarilho pedia café, almoço e janta nas portas dos moradores. Recentemente estava residindo em Bom Jardim.
João José da Silva, 57, é conhecido no Agreste e Sertão do estado e até na Paraíba.Odiabetes o fez parar as andanças.
Destino. De significados discutíveis, a palavra tem um único para João José da Silva. A compreensão de sorte, fado ou fortuna jamais encontrou apoio no seu “pouco conhecimento”. Destino, para ele, é providência divina. A justificativa está na sua história. Ou melhor, de João Gordinho, como ficou conhecido esse senhor de 57 anos. Há dois anos amputaram-lhe o pé esquerdo por conta do diabetes. Ao salvá-lo, tiram-lhe também o que mais gostava: caminhar. João Gordinho ganhou fama nos agrestes e sertões como andarilho. Foram, numa soma rápida, pelo menos 20 mil quilômetros percorridos em Pernambuco e na Paraíba.
Preso a uma cadeira de rodas, em Bom Jardim, distante 115 quilômetros do Recife, João Gordinho vive mais do passado. “Se eu recuperar minhas forças, quero andar. Andar por onde andei”, confessa. Aí reside a justificativa para sua definição de destino. Menino raquítico, conseguiu andar somente aos 8 anos. Antes, arrastava-se. Gostou tanto de caminhar que aos 14 anos saiu de casa, em João Alfredo, lugar de nascimento, no Agreste pernambucano, para a vizinha Salgadinho. Os quase 13 quilômetros percorridos a pé abriram-lhe horizontes, os de que podia conhecer novos lugares e novas pessoas. Era uma caminhada, a seu ver, para a liberdade.
Várias andanças
João acreditou nisso. Deixou de lado o temor de apanhar da mãe, risco que correu na primeira experiência, e aventurou-se. Depois de Salgadinho vieram outras 66 cidades e vilas. Em algumas esteve diversas vezes em 40 anos de andanças. “É muita coisa, não é?”, questiona mais a si do que aos frequentes visitantes de sua casa de poucos móveis. Se alguém ousa duvidar, João circula mais uma vez, em um exercício de memória, pelos lugares em que pisou. A lista dos pontos visitados é repetida, sem titubeios, em 63 segundos: “Vitória, Carpina, Bezerros, Nazaré da Mata… Cruz de Pedra, Buraco do Tatu. Taó, São Vicente, Simão”.
Rotas desconhecidas
Algumas vezes, o andarilho perdia-se na procura de novos destinos. Andava quilômetros por rotas desconhecidas. Assim, chegou à distante Cajazeiras, na Paraíba, a 429 quilômetros de João Alfredo. No começo, as andanças eram com um saco nas costas. Dentro, roupas velhas, um prato e um copo de plásticos e uma colher. Outro saco foi necessário à medida que se tornou conhecido. Ali, carregava livros, brinquedos, LPs e CDs. Ele ainda guarda parte dessa herança. “Ganhava de tudo. Tinha direito até a recantos para tomar banho, comer e dormir. Ficava no terraço, às vezes. Outras, em “quartinhos de fundo de quintal”.
Quando a solidariedade sumia, restavam as calçadas e as marquises dos prédios públicos. Viveu tanto em tais pontos que é capaz de situá-los por ruas em algumas cidades. Dessas cidades, conhece os nomes de todas ruas.“Tem rua com dois ou três nomes”. Ele conhece essas variações, assim como aprendeu o nome de muitos moradores. Na maioria, meninos e meninas que pediam ao andarilho para cantar de nariz tapado. Ou pediam para fazer origamis. Ao dar vida a animais e objetos dobrando papel, João Gordinho tornava-se amigos das crianças. Algumas cuidam hoje do andarilho.
Saiba mais
Passos do andarilho
40 anos de andanças
14 anos idade em que fez a primeira viagem
67 cidadese vilas visitadas
90% eram de Pernambuco
10%eram da Paraíba
20 mil quilômetros, no mínimo, percorridos a pé
400 LPs
113 CDs foram colecionados a partir de doações
Fonte - Bom dia Bom Jardim
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