Por: Patrícia Monteiro
O estado possui, atualmente, 110 feiras orgânicas cadastradas, segundo
levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) (Foto: Divulgação)
Produtos originalmente de carne animal passando a ser elaborados com
plantas ou o aumento crescente do universo fitness. A demanda por uma
alimentação mais sustentável é um dos sintomas da busca por um estilo de vida
mais saudável. Um contexto que apresenta reflexos no mercado e onde Pernambuco
ocupa posição de destaque no país. O estado possui, atualmente, 110 feiras
orgânicas cadastradas, segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento
Agrário (SDA). Um número que cresceu 24%, saindo de um total de 83 feiras, no
início do cadastramento no Programa Circuito Pernambuco Orgânico, em 2019.
Atualmente, o estado possui a maior rede de espaços orgânicos do Norte e
Nordeste e a segunda maior do país. De acordo com dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a quantidade de produtores
orgânicos cadastrados também cresceu, saltando de 849 para 1.044, ao longo de
2019.
De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco,
Dilson Peixoto, o cenário reflete, também, o crescimento da quantidade de OCSs
(Organizações de Controle Social) em Pernambuco. Hoje são 52. “A vinculação a
uma OCS permite o reconhecimento como produtor orgânico. O desafio, agora, é
ampliar o número de espaços no interior do estado, já que, atualmente, um terço
desses espaços está concentrado na capital”, afirma, complementando que quando
se interiorizam as feiras, incentivam-se os chamados circuitos curtos,
aproximando o produtor do consumidor. “Isso representa menos custos para quem
produz, que passa a gastar menos com combustível e transporte, e também para
quem consome um alimento saudável muitas vezes mais barato do que encontramos
nos supermercados”, explica. Uma das metas da secretaria para 2020 é contribuir
para a formação de uma Organização Participativa de Avaliação da Conformidade
(Opac), que permitirá ao produtor utilizar o selo de produtos orgânicos, por
meio do Sistema Participativo de Garantia (SPG), e sua comercialização por
terceiros.
Produtores produzem e comercializam em vários espaços
O orgânico é mais do que fonte de renda, muitas vezes única, de boa parte
dos produtores rurais do estado. É modo de vida. Amadeu Andrade, 55, da
associação de agricultores agroflorestais Terra & Vida, com sede em
Igarassu, emociona-se ao falar sobre seu dia a dia como um dos associados do
grupo que possui sócios em Abreu e Lima, Tracunhaém, Glória do Goitá, Goiana e
São Lourenço da Mata. “Vivemos do sítio e para ele. Não há nada melhor do que
poder cuidar da terra, vê-la responder, fazer o adubo orgânico, ver a
reciclagem dentro da própria terra e tudo o que falamos sobre agroecologia ser
implantado. Isso é muito bom”, afirma.
No Recife, a associação participa de feiras em bairros como Graças, Boa
Viagem, Olinda, Santo Amaro, Setúbal, Várzea, Rosarinho, Casa Forte, Camaragibe
e Pina, a fim de escoar uma produção de 400 a 500 kg por semana, em média. Um
mix de mais de 200 itens plantados e processados nos sítios como batata-doce,
macaxeira, inhame, goiaba, araçá, maracujá, manga, caju e acerola. “Somos
conhecido também por fazer a famosa carne de jaca e a polpa de azeitona roxa
(jamelão). Utilizamos insumos orgânicos – farinhas de trigo e arroz por exemplo
- em tudo o que é produzido como pães, bolos e geleias”, relata. Até a baunilha
é plantada nos locais, que também passarão a receber o plantio de itens como
cacau. “Só tenho 30% da minha área aberta, o restante é tudo agrofloresta. E
este trecho é voltado a plantações que precisam de incidência solar, sendo o restante
todo associado à mata nativa. É muito tocante cuidar da natureza e ela fazer o
mesmo por você”, afirma. Para 2020, a meta é ampliar a busca da qualidade e
cuidados com a terra, além de ampliar a produção. “Atualmente, nossa capacidade
está toda tomada em relação à comercialização. Por isso, estamos buscando
parceiros para atender à demanda”, finaliza.
Adeildo Barbosa da Silva, 42, faz parte da Agroflor, rede com várias
outras organizações, localizada em Bom Jardim, e que comercializa em Recife. A
Associação é formada por 115 agricultores de sete famílias, vindas de locais
como Gravatá, Chã Grande e Abreu e Lima e que participam também de comércio em
35 feiras do Recife como as de Boa Viagem, Setúbal, Santo Amaro, Várzea e
Camaragibe. Além disso, a associação participa de programas como o de aquisição
de alimentos do governo federal e o PNAE, de merenda escolar. Cerca de 70% das
frutas - como banana, laranja, limão, abacate, manga – e 90 a 05% hortaliças -
alface, coentro, cebolinha e couve – são destinados ao comércio. A dedicação ao
agro, para Adeildo, tem valido a pena. “Já são quase 15 anos e não me
arrependo. Tenho uma renda suficiente para mim, minha esposa e filho”, afirma.
Os benefícios mensais, em média, de um agricultor da Agroflor é de 2,5 a três
salários-mínimos.
Dicas de segurança para o consumidor, em uma feira agroecológica:
*Conversar com o comerciante e tirar suas dúvidas. É bom, inclusive,
procurar saber se ele é o produtor ou atravessador.
*Verificar se o agricultor tem exposto em sua barraca a marca da OCS
(ORGANIZAÇÃO De Controle Social), registrada no Ministério da Agricultura.
* Se possível, marcar visita na propriedade do agricultor para conhecer o
trabalho do mesmo.
Sobre agricultura agroecológica/orgânica?
Não utiliza agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos,
antibióticos ou transgênicos em qualquer fase da produção. Não faz queimadas.
Para impedir a disseminação de doenças, plantas consideradas daninhas são
usadas para atraírem para si as pragas.
* Todo alimento cultivado sem o uso de agrotóxicos é
agroecológico/orgânico?
Não. A produção agroecológica/orgânica vai além disto. O cultivo deve
respeitar aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos, garantindo um
sistema de produção sustentável, não deixando de pensar na água, no ar, no
homem, nos seres vivos embaixo do solo e nos animais.
*Frutos grandes e bonitos indicam o uso de agrotóxico?
O mito de que o produto agroecológico/ orgânico é menor, ou mais feio, já
foi superado pela produção agroecológica/orgânica. Depende do solo já estar
recuperado ou não.
*Por que produtos agroecológicos/orgânicos são mais caros?
O produto pode ter seu custo de produção um pouco maior, o que muitas
vezes não influencia no seu preço final. O que é considerado na hora de definir
o preço é o quanto o agricultor consegue produzir de forma limpa levando em
consideração os seus custos. Atualmente, entretanto, estes alimentos estão com
o seu preço bem equiparado ou mais barato do que os convencionais.
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