Ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa é fator novo e pode chegar ao 2°
turno
O casamento entre Barbosa e o PSB depende da resolução de brigas internas
do partido 2014 legenda que tem entre os integrantes gente da esquerda e da
direita. Mas também de imposição do próprio ex-ministro
A capacidade eleitoral do
pessebista também se iguala à dos principais nomes do centro
Brasília - Às 14h45 da última quinta-feira, ao chegar à sede do PSB, um
imóvel na Asa Norte, em Brasília, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
Joaquim Barbosa pensou em recuar. O batalhão de jornalistas foi uma surpresa
para o magistrado aposentado, como ele mesmo disse a líderes da legenda. O
desafio do homem que nas pesquisas de intenção de votos chega a 10% é
transformar o espanto em decisão. Mas isso pode demandar tempo. Há clara
intenção entre a sigla e o ministro aposentado em transformar o namoro,
iniciado há pelo menos oito meses, em casamento. A dificuldade é que eles
passariam a morar sob o mesmo teto. E isso pode dar certo ou errado.
O casamento entre Barbosa e o PSB depende da resolução de brigas internas
do partido — legenda que tem entre os integrantes gente da esquerda e da
direita. Mas também de imposição do próprio ex-ministro. À imprensa ele não
demonstrou preocupação em perder eventual apoio em decorrência da lentidão em
definir a candidatura. “Who cares?”, respondeu, em inglês. Na tradução literal
para o português, a frase significa “quem se importa?”. Hoje, tem pelo menos
potencial de 14 milhões de eleitores, ainda na largada. A postura expressa bem
que o jurista ainda não caiu em si sobre o seu potencial. Afinal, mesmo sem
ainda ter se posicionado ou discursado como pré-candidato, detém intenção de
votos superior à soma de votos de Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (Psol) e
Manuela D’Ávila (PCdoB).
A capacidade eleitoral do pessebista também se iguala à dos principais
nomes do centro. Juntos, Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM) e Henrique
Meirelles ou Michel Temer (MDB) detêm os mesmos 10% que Barbosa. A diferença
entre esses pré-candidatos e os de esquerda é que Barbosa pode crescer mais nas
pesquisas, sustenta o cientista político Murillo Aragão, sócio da Arko Advice.
“Pode afetar todas as candidaturas. De esquerda, centro ou direita”, avaliou.
DEPENDÊNCIA DE COLIGAÇÕES
O sucesso de Barbosa, no entanto, dependerá muito da formação de
coligações, para dar estrutura partidária e tempo de TV, pondera Aragão. “Não é
apenas jogar um nome e ver se cola”, disse. Ciente do poder que Barbosa pode
ter em absorver votos de outros pré-candidatos, e da importância em construir
alianças, líderes do PSB no Congresso Nacional já estão se movimentando para
construir narrativa sólida que garanta apoio na corrida eleitoral e em eventual
gestão na Presidência da República.
A ideia é construir a imagem de Barbosa como desaguador do centro e da
esquerda, explica o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG). “Fui,
inclusive, procurado por deputados de esquerda que propuseram a instalação de
uma frente parlamentar suprapartidária de apoio ao ministro aposentado”,
afirmou. A expectativa do partido é que o apoio partidário possa fazê-lo cair
na real para as eleições. Resta saber o que pensam ele e a legenda, ressalta
Delgado. “Pelo menos na primeira conversa que tivemos sobre alguns temas, houve
uma sintonia.”
No campo econômico, houve sinergia entre partido e o potencial candidato.
O ministro aposentado e os líderes concordam que a reforma da Previdência deve
ser aprovada, mas não no modelo proposto por Temer. Também houve sintonia em
relação às privatizações. “Não de tudo, nem de setores estratégicos”, ressaltou
Delgado. O presidente do partido, Carlos Siqueira, endossa o discurso e garante
que algumas decisões liberais de Barbosa como ministro, como voto pela quebra
do monopólio do petróleo, são aceitáveis. “Admitimos que haja participação
privada, mas é preciso que o governo mantenha o controle de áreas estratégicas,
como energia e gás”, disse.
JEITO MINEIRO
A ficha de Barbosa pode levar ainda outras reuniões para cair. O jeito
cauteloso, meio desconfiado, meio prudente do ex-magistrado pode ser a causa
disso, avalia o empresário Antônio Carlos Mariano de Almeida, mais conhecido
como Toninho. Amigo do magistrado desde a infância, ele não tem dúvidas de que
avaliações pelo lado pessoal terão grande peso na escolha. “A partir do momento
em que o sujeito vira vitrine no Brasil, todo mundo quer jogar pedra. Então,
pode ter certeza de que, se vier a ser candidato, vai ter muita gente batendo
nele. E ele sabe disso”, ponderou.
Natural de Paracatu, no Noroeste de Minas, como Barbosa, Toninho conhece
o ministro aposentado como poucos. Fizeram o ensino fundamental juntos e
jogaram futebol no mesmo time de juvenis. O empresário não nega que o
temperamento forte é marca registrada do ex-presidente do STF, algo que, politicamente,
deve ser monitorado pelo partido. Mas, para ele, isso pode jogar a favor do
jurista na corrida eleitoral. “Joaquim é de poucos amigos. Mas os amigos
verdadeiros têm acesso muito grande a ele. Ele se abre, pede opiniões, e ouve
muito bem. Sabe ser flexível. Se sentir confiança nos líderes do partido e
aliados, o trato com certeza será diferenciado”, avaliou o amigo.
Um fator determinante para selar o casamento entre Barbosa e o PSB é a
reciprocidade. Dificilmente, o ex-magistrado aceitará assumir a pré-candidatura
se perceber persistência da divisão interna entre caciques do partido. A falta
de consenso em torno do recém-correligionário, no entanto, pode ser momentânea.
Mesmo líderes que questionam a pré-candidatura do ministro aposentado não viraram
totalmente as costas.
"A atração do partido em relação a Barbosa é eleitoreira”, disse um
dirigente do partido, que aponta os principais nomes contrários ao magistrado:
“Renato Casagrande (ES), Paulo Câmara (PE) e Ricardo Coutinho (PB). Os
defensores são a elite do partido que reside em Brasília”. Ao responder às
perguntas dos jornalistas na quinta-feira, Barbosa foi direto: “Há dificuldades
dos dois lados. O partido tem sua história, suas dificuldades regionais. Do meu
lado, tenho minhas dificuldades de ordem pessoal”. A dificuldade do PSB com
nomes de fora não é novidade, vide o caso de Marina Silva na eleição passada,
vista com desconfianças pelos integrantes do partido. A ex-senadora terminou a
campanha com 21% das intenções de votos.
Para um filiado do partido, as qualidades de Barbosa são os principais
problemas dele, como a sinceridade. “Mas, se ele se viabilizar como candidato
em um partido dividido como o PSB, terá passado no primeiro teste para virar
presidente.” O governador de São Paulo, Márcio França, sugeriu que o partido
faça pesquisa qualitativa sobre Barbosa para sondar o seu poder eleitoral nas
ruas. A depender dos resultados, pode vir a apoiá-lo. (Colaboraram Leonardo
Cavalcanti e Bernardo Bittar)
Por: Rodolfo Costa - Correio Braziliense
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