Molon discorda das
telefônicas: a neutralidade evita o fatiamento da internet.
Considerado durante os
dois anos e meio de tramitação da matéria na Câmara como o principal opositor
da matéria, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel
Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) divulgou nota, na terça à noite, declarando
ter recebido de forma positiva a aprovação do projeto pela Câmara, na medida em
que o texto assegura “que seja dada continuidade aos planos existentes e
garante a liberdade de oferta de serviços diversificados”. Segundo a nota,
“preservando democraticamente a liberdade de escolha dos consumidores, fica
preservada também a oferta de pacotes diferenciados, como os de acesso gratuito
a redes sociais”.
Porém, durante toda a
tramitação da matéria na Câmara, o relator, deputado Alessandro Molon (PT-RJ),
defendeu a preservação no texto do conceito de neutralidade, justamente para
garantir que a internet não fosse “fatiada”. Segundo Molon, com a neutralidade
garantida, os provedores de internet não poderão oferecer pacotes de internet
só com acesso a e-mail ou só com acesso a redes sociais, por exemplo.
Entretanto, ainda conforme o relator, o texto garante que os provedores possam
ofertar pacotes com velocidades diferentes.
O secretário de
Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira, reitera a
interpretação do relator. “Uma das grandes vantagens da internet é podermos
acessar qualquer conteúdo, fontes alternativas de informação – e isso só é
possível por conta da neutralidade”, salientou. Para ele, se houver restrição
da neutralidade, haverá inibição do acesso a novas fontes de informação,
prevalecendo apenas os sites e serviços de grandes corporações, prejudicando a
democratização da comunicação.
O ministério é o autor
da proposta inicial de marco civil enviada ao Congresso.
Fatiamento da internet
Na quarta-feira (26),
foi a vez da Proteste- Associação dos Consumidores divulgar nota sobre o marco
civil, também com o entendimento semelhante ao do relator, de que, com a
aprovação da proposta, “as operadoras terão de oferecer a conexão contratada
independente do conteúdo acessado pelo internauta e não poderão vender pacotes
restritos (preço fechado para acesso apenas a redes sociais ou serviços de
e-mail)”.
Para a coordenadora do
Coletivo Intervozes, Bia Barbosa, o Sinditelebrasil tenta convencer a população
de que tudo vai continuar como está. “Mas, na leitura da sociedade civil, o
marco civil é claro nesse sentindo: vender plano de assinatura só com acesso a
um aplicativo ou que dê gratuitamente acesso a determinado site ou aplicativo é
quebra da neutralidade de rede; isso é fatiar a internet e impedir que o
usuário acesse o conjunto da internet”, afirmou. “A internet não pode se resumir
ao Facebook, e não se pode criar usuários de internet diferenciados”,
complementou.
Brecha
Na visão do consultor
legislativo Cláudio Nazareno, existe espaço, no texto da proposta, para
interpretações diversas, inclusive para questionamentos judiciais, sobre a
oferta ou não de pacotes com serviços diferenciados pelas empresas de
telefonia. Isso porque a proposta prevê que possa haver discriminação do
tráfego se essa decorrer de requisitos técnicos indispensáveis à prestação
adequada dos serviços e aplicações ou para priorizar serviços de emergência.
Para Nazareno, a brecha está justamente na abrangência do que possa ser
“requisitos técnicos”. O texto aprovado diz que essas exceções à neutralidade
de rede serão regulamentadas pela Presidência da República.
Porém, na opinião do
consultor, não necessariamente a oferta de pacotes diferenciados, com acesso
somente a determinadas aplicações, é prejudicial ao consumidor, já que hoje
muitas pessoas que não tinham acesso à internet têm hoje pelo menos acesso
gratuito a redes sociais, por meio de ofertas das operadoras, principalmente no
celular pré-pago.
A proposta está sendo
analisada agora pelo Senado Federal.
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