Autor de um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff o
jurista Hélio Bicudo, 93 anos, fundador do PT, disse à reportagem que o
objetivo da iniciativa é dar efetividade às manifestações de rua que pedem a
destituição da presidente. Segundo Bicudo, Dilma já não está mais governando.
"A presidente já não governa mais. Quem está governando são os
acólitos (ajudantes, acompanhantes) que estão do lado dela", disse Bicudo.
Para jurista Hélio Bicudo, Dilma agiu com dolo em 'pedaladas fiscais'.
(AE)
O jurista, no entanto, poupa o vice-presidente, Michel Temer (PMDB):
"O vice-presidente não tem tido uma atuação política que justifique seu
afastamento", argumentou.
Segundo ele, a ideia de fazer o pedido de impeachment surgiu depois de
conversas com representantes de movimentos que chamaram as manifestações de rua
contra a presidente.
"A ideia foi evoluindo a partir das manifestações de rua onde se
pede o afastamento da presidente. Para que as manifestações tivessem fundo só
seria possível com um pedido formal de afastamento", afirmou o jurista.
Bicudo deixou o PT em 2005 ao lado de deputados que viriam a fundar o
PSOL e do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio (1930-2014) no auge do escândalo
do mensalão. Desde então se transformou em uma voz crítica à legenda que ajudou
a fundar. Em 2010, quando Dilma foi eleita, ele anunciou publicamente apoio à
candidatura do tucano José Serra à Presidência. Segundo Bicudo, o motivo da
saída do PT é o afastamento do partido de seus objetivos originais.
"O PT foi criado para ser uma ferramenta absolutamente democrática,
mas hoje o partido está dominado pelo caciquismo", disse ele. Bicudo negou
ter sido procurado por políticos antes ou depois do pedido de impeachment e
disse achar naturais as divergências de seus filhos que, em entrevistas à Folha
de S. Paulo, discordaram da iniciativa do pai.
"Meus filhos foram criados em um sistema democrático. Não quero
atrelá-los àquilo que eu penso", afirmou. Segundo ele, Dilma agiu com dolo
(intenção) na questão das chamadas pedaladas fiscais e isso fundamenta
juridicamente o pedido.
"Dilma não tem apenas culpa no que aconteceu. Ela atuou diretamente
para que aquilo acontecesse. Na campanha pela reeleição ela disse que faria
isso e aquilo e fez exatamente o contrário", disse Bicudo.
Questionado sobre a permanência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
acusado pelo Procuradoria Geral da República de participação no esquema de
desvios da Petrobras, na presidência da Câmara, Bicudo se esquivou.
"Isso é um problema interno da Câmara. Ele foi eleito pela maioria
dos deputados. Não quero me imiscuir nos problemas deles", disse o
jurista.
Reportagem/Estadão
- Ricardo Galhardo
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