Rodrigo Pacheco durante discurso em sessão do Denado Federal (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Com 57 dos 78 votos, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato apoiado pelo
presidente Jair Bolsonaro, foi eleito nesta segunda-feira o novo presidente do
Senado. Ele derrotou Simone Tebet (MDB-MS), que teve 21 votos. Advogado de
formação, Pacheco está no primeiro mandato como senador. Antes, atuou como
deputado federal por quatro anos. Para romper a fama de novato, a articulação
costurada com governistas e oposicionistas por seu antecessor, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), foi fundamental.
Em discurso feito momentos antes da votação, Pacheco afirmou que terá uma
gestão independente em relação aos outros poderes e que não haverá "nenhum
tipo de pressão externa". Segundo ele, "governabilidade não significa
ser subserviente ao governo". Pacheco também assumiu um compromisso pela
defesa intransigente do Estado Democrático de Direito.
Ao mesmo tempo, o senador mineiro disse que a sua gestão, formada com
alianças de diferentes correntes ideológicas, pode ser uma oportunidade de "pacificação"
das relações políticas:
— Vamos fazer disso uma grande oportunidade, uma grande oportunidade
singular de pacificação das nossas relações políticas e institucionais porque é
isso que a sociedade brasileira espera de nós.
Defensor de uma nova rodada do auxílio emergencial durante a pandemia do
novo coronavírus, Pacheco disse que é preciso tentar conciliar o teto de gastos
públicos com a área da assistência social, mantendo o diálogo com a equipe econômica
para buscar soluções.
— Não podemos desconhecer que, a despeito do compromisso da
responsabilidade fiscal e do teto de gastos públicos de índole constitucional,
nós temos uma obrigação de reconhecer um estado de necessidade no Brasil que
faz com que milhares de vulneráveis, milhares de miseráveis precisam do
atendimento do Estado. De modo que nos primeiros instantes, caso vossas
excelências me outorguem o mandato de presidente, nós vamos inaugurar um
diálogo pleno, efetivo e de resultados, porque isso é para ontem, para que se
possa conciliar o teto de gastos públicos com assistência social num dialogo
junto com a equipe econômica do governo federal — declarou.
Nos primeiros anos de sua carreira pública, Pacheco ganhou rápida
notoriedade no Congresso ao ocupar a presidência da Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara, em 2017. O então deputado era filiado ao MDB. Ele teve
a sua atuação no colegiado elogiada até mesmo pela oposição ao conduzir as
denúncias contra o ex-presidente Michel Temer, na época seu correligionário.
Na véspera da eleição desta segunda, Pacheco ainda tentava contemplar
interesses de todos os aliados, que juntos representam mais de dez partidos. Na
reta final, ele dividiu e conquistou votos até mesmo na sigla de sua principal
adversária, Simone Tebet (MDB-MS), que acabou sem apoio dos emedebistas e optou
por manter a candidatura de forma independente.
Encabeçada pelo atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a
estratégia de campanha de Pacheco foi se antecipar aos movimentos dos
adversários. Assim, ele saiu na frente ao conquistar o apoio de partidos
expressivos, como PSD e PT, antes mesmo dos emedebistas decidirem quem seria o
seu representante na eleição.
Além disso, após o MDB lançar a candidatura de Simone, Pacheco iniciou
uma ofensiva sobre os possíveis aliados da emedebista. A estratégia contou com
a influência do Palácio do Planalto em momentos decisivos, entre eles o anúncio
do PSDB de que iria liberar a bancada na eleição, sem se comprometer com
nenhuma candidatura. Dias antes, tucanos garantiam que iriam endossar o nome do
MDB.
Outro momento simbólico que pesou a favor de Pacheco recentemente foi
conquistar o apoio da Rede, legenda que possui apenas dois senadores, mas que
se coloca contra a gestão Jair Bolsonaro e tem certo alinhamento com Simone. Em
nota, o senador Fabiano Contarato (ES) justificou o voto ao dizer que não há
candidatura de oposição na disputa que pudesse propor "uma alternativa de clara
objeção ao governo federal".
Em entrevista ao GLOBO, há uma semana, Simone negou a existência de
qualquer ameaça à democracia no momento, evitou se comprometer com um eventual
processo de impeachment de Bolsonaro e destacou que apoiou mais propostas do
Executivo do que o próprio Pacheco. No discurso, a parlamentar seguiu
orientações de caciques do MDB, que defendiam um tom de moderação em relação ao
Planalto.
Na semana que antecedeu a eleição, aliados de Pacheco deram a cartada
final na corrida pela presidência ao fazer com que o MDB, maior partido da
Casa, com 15 senadores, desistisse de manter candidatura própria. Simone, no
entanto, decidiu seguir com a candidatura avulsa, com o apoio formal do
Podemos, Cidadania e PSB. Até dois dias antes do pleito, entretanto, emissários
de Pacheco e Alcolumbre ainda tentavam convencer a parlamentar a desistir por
avaliar que a presença da senadora causa 'constrangimento', mas ela indicava
estar irredutível por avaliar que precisa marcar posição.
Com o embarque do MDB na campanha, mesmo que sem apoio oficial, Pacheco
também passou os últimos dias buscando uma forma de incluir os emedebistas na
sua gestão. Eles devem assumir a vice-presidência da Casa, representados por
Veneziano Vital do Rêgo (PB), e outros cargos. A eleição para a composição da
Mesa Diretora está prevista para ocorrer nesta terça-feira.
Da Agência O Globo
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