Em depoimento à Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, 30, um dos quatro
presos na terça (23) sob suspeita de ter hackeado celulares de autoridades,
afirmou que obteve o contato do jornalista Glenn Greenwald, do site The
Intercept Brasil, por meio da ex-deputada Manuela d'Ávila (PC do B).
Em nota, Manuela disse que, em 12 de maio, foi informada pelo Telegram de
que sua conta foi invadida. Logo depois, recebeu uma mensagem de uma pessoa
dizendo que tinha provas de atos ilícitos cometidos por autoridades.
"Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que
queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou
insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer
natureza", diz o texto.
A ex-deputada afirma que repassou o contato de Greenwald e que desconhece
a identidade de quem invadiu seu celular. Disse que vai entregar cópias das
mensagens à Polícia Federal e que está à disposição para prestar
esclarecimentos e para entregar seu aparelho para perícia.
Segundo Delgatti, os arquivos foram enviados ao Intercept por meios
eletrônicos e a equipe do site não o conhece.
Delgatti afirmou que entrou no Telegram do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), mas que não tem registros desse ataque. O suspeito negou que
tenha acessado as contas do aplicativo da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP),
do ministro da Economia, Paulo Guedes, ou de outras autoridades do governo.
Conforme o depoimento, Delgatti disse que os outros três suspeitos presos
pela PF --Gustavo Henrique Elias Santos, 28, Suelen Oliveira, 25, e Danilo
Marques, 33-- são seus amigos de infância e em nenhum momento repassou a eles a
técnica usada para invadir os telefones. Nesta sexta, a Justiça prorrogou as
prisões por mais cinco dias.
De acordo com a PF, Delgatti tem colaborado com as investigações. Os
policiais, contudo, veem contradições no seu depoimento.
Eles apontam que a investigação tem um número muito maior de vítimas do
que o Delgatti confessou --há cerca de mil alvos.
Ele também diz que não hackeou Paulo Guedes, mas um dos seus celulares de
estava aberto na conta do ministro no momento da operação, na terça.
Segundo as leis brasileiras, não cabe punição a uma pessoa que se omitiu
ao tomar conhecimento de um ato ilícito. Nesse caso, mesmo que soubesse que um
hacker tivesse cometido um crime, Manuela não poderia ser penalizada por ter
deixado de denunciar o caso. Segundo o entendimento jurídico, também não
consiste ilicitude o fato de ela ter intermediado o contato entre Delgatti e
Greenwald.
O jornalista disse que a fonte que repassou conversas ao site afirmou que
não pagou pelos dados nem pediu dinheiro a ele em troca do material.
Nesta sexta, Greenwald revelou à revista Veja trechos de diálogo que
manteve com a pessoa que repassou as mensagens vazadas. Ele afirmou que um dos
primeiros contatos com a fonte aconteceu no início de maio deste ano e que foi
apresentado a ela por um intermediário. Todos os contatos, afirmou, foram
virtuais.
O diálogo publicado pela Veja ocorreu dias antes da primeira reportagem
do Intercept com os vazamentos, em 9 de junho. Na conversa divulgada, Greenwald
pergunta à fonte se ela leu reportagem da Folha de S.Paulo a respeito da
invasão por um hacker do celular de Moro. A pessoa negou que fosse o responsável
pelo ataque ao aparelho do ministro.
A fonte não revelada diz a seguir que seu modo de agir era diferente do
citado naquele caso. "Nunca trocamos mensagens, só puxamos [o
conteúdo]", escreveu.
O jornalista e o Intercept têm dito que não vão se manifestar confirmando
se foi Delgatti quem repassou os dados porque não fazem comentários sobre suas
fontes.
Do Folhapress
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