Foto/Edivaldo Ribeiro |
A festa Marabaixo é uma comemoração
religiosa que acontece no Amapá, praticada por remanescentes de quilombos, os
quais demonstram sua fé através da dança, do canto e do consumo da gengibirra,
bebida feita à base de gengibre e álcool.
Os africanos, que chegaram ao Brasil na
condição de escravos, trouxeram elementos da cultura de seus países de origem.
Entre esses elementos culturais, a música e a dança foram fundamentais para a
manutenção de uma memória da terra de origem e, ao mesmo tempo, para o estabelecimento
de uma identidade.
Para que os senhores de escravos
permitissem manifestações musicais e danças, os negros cativos incorporaram a
elas aspectos da cultura branca, sobretudo aspectos da religião. Assim nasceu o
Marabaixo, misturando tradições africanas aos rituais e crenças da religião
católica.
O Marabaixo é uma festa religiosa em
louvor à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo, realizada através de
missas que misturam danças, músicas, ladainhas. As danças e músicas são
improvisadas, originalmente, e devem representar a realidade vivida, o
dia-a-dia de uma comunidade. Por representar situações cotidianas, o Marabaixo
pode ser composto de movimentos que lembram lutas, como também movimentos que
lembram a alegria, a tristeza e a paixão.
Os instrumentos utilizados são caseiros,
confeccionados rusticamente de madeira cavada, transformada numa espécie de
caixa imitando o som de tambores. Recebem o nome de membranofones. Participam
negros e mulatos, em maioria, que respondem em coro a uma espécie de “desafio”
tirado por um cantador ou cantadora, que lança os improvisos.
As festividades do Marabaixo se iniciam
no domingo de Páscoa e terminam no dia do Divino Espírito Santo, ou seja,
quarenta dias após o domingo em que se comemora a ressurreição de Cristo.
Como toda a tradição, o Marabaixo sofreu
modificações ao longo dos anos. No entanto, um aspecto chama a atenção quando
se observa esse ritual. De modo geral, as tradições populares perdem sua força
nos espaços urbanos. Nessas áreas, o crescimento da população, as condições de
trabalho e hábitos culturais que incorporam os avanços tecnológicos favorecem o
esquecimento e, até mesmo, o abandono das tradições de origem de um povo.
Ao contrário do que, em geral, ocorre
com as tradições populares, o Marabaixo, na atualidade, mantém-se vivo e
importante em áreas urbanas. Na cidade de Macapá, capital do estado do Amapá,
os bairros da Favela e do Laguinho são considerados redutos, guardiões da
prática e dos ensinamentos sobre o Marabaixo.
Considera-se que a migrações de populações rurais para a cidade de
Macapá foram importantes para a manutenção dessa tradição no espaço urbano da
capital amapaense.
Ao mesmo tempo, o Marabaixo permanece
como uma importante festividade na Vila do Curiaú, uma comunidade rural
localizada a 12 Km de Macapá, onde essa tradição, muitas vezes, está ligada a
práticas religiosas de origem africana. Em Curiaú, a maior aproximação entre o
Marabaixo e essas tradições pode ser
explicada pelo fato de que essa vila está situada na área de um antigo
quilombo.
Assim, diferente do que acontece com
tradições como o Boi Bumbá, a festa do Marabaixo não pode ser considerada
apenas rural ou apenas urbana. Alguns estudiosos da tradição do Marabaixo
indicam que a manutenção dessa festividade está relacionada aos movimentos de
valorização da cultura negra, que ganharam força no Brasil a partir da década
de 60.
Em 2004, o governo do Amapá instituiu,
no calendário folclórico do estado, o Ciclo do Marabaixo. Essa medida fez
valorizar e divulgar a tradição, chamando a atenção de turistas e levando as
escolas a trabalharem essa festividade como um importante marco da cultura
local. Ao mesmo tempo, diante do estabelecimento desse Ciclo, os praticantes
mais antigos do Marabaixo argumentam que os valores básicos da tradição,
ligados à religiosidade e à cultura negra, tornam-se menos importantes para os
novos e jovens integrantes. Os antigos foliões chamam a atenção para o fato de
que a bebida gengibirra, antes considerada um dos componentes do Marabaixo, tem
se tornado o centro da festividade, sobretudo junto aos jovens. Essa mudança,
para os praticantes tradicionais, é considerada uma perda para a cultura do
Marabaixo.
Portal-Educar Brasil
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