O ousado filme “Carro Rei”, de Renata Pinheiro, foi o grande vencedor do 49º Festival de Cinema de Gramado, levando quatro prêmios na noite deste sábado: melhor filme, melhor trilha musical, melhor direção de arte e melhor desenho de som.
Como a própria diretora contou durante o
debate do filme ao longo da semana,
“Carro Rei” é “sobre o quanto estamos nos transformando nesse homem
tecnológico e quanto podemos nos desumanizar neste processo”. Trazendo diversas
referências que passam pela ficção científica, o longa traz questões sobre a
identidade brasileira e o momento recente do Brasil.
“Eu queria agradecer por ter essa voz
agora, estamos passando por um momento tão difícil de destruição total do nosso
setor que emprega tanta gente, um setor que emprega tanta gente, que dá chance
para tantos talentos brasileiros entenderem o que é se comunicar, o que é criar
uma expressão artística, o que é ser brasileiro. Estão querendo destruir a
gente e a gente não pode”, agradeceu Renata emocionada que ainda fez um apelo à
Cinemateca e um agradecimento a todos que trabalharam no filme e nas produções
brasileiras.
A comédia de western “Jesus Kid” garantiu a
Aly Muritiba melhor direção e melhor roteiro em longa-metragem brasileiro, uma
adaptação do livro de Lourenço Mutarelli. O filme deu ainda a Leandro Daniel
Colombo o Kikito de melhor ator coadjuvante. A melhor atriz coadjuvante foi Bianca
Byington por “Homem Onça”.
O ator Nando Cunha consagrou-se melhor ator
pelo papel de Mauro em “O Novelo”. O prêmio tem um gostinho todo especial para
ele, já que o papel foi conquistado justamente pela visibilidade e reconhecimento
em 2017 quando ele foi o melhor ator de curta-metragem brasileiro em Gramado
por “Telentrega”, despertando a atenção da diretora Claudia Pinheiro.
“Estou feliz demais, feliz demais. Quero
agradecer a todos os atores que trabalharam comigo, meu Deus, meu Deus. Hoje a
gente fala muito de posicionamento, das pessoas ficarem em cima do muro, é
sobre a importância de se posicionar e foi por eu me posicionar que esse filme
nasceu. Eu era um moleque que morava na Penha e costumava ver o festival de Gramado
como o ‘Oscar brasileiro’. E esse moleque ganhou hoje um ‘Oscar’ de melhor ator
com longa brasileiro tendo como concorrente Paulo Miklos e Matheus Nachtergaele
que eu sou muito fã, só agradecer demais”, falou emocionado entre lágrimas.
Glória Pires, que já tem um troféu
Oscarito, homenagem entregue em 2013 no 41º
Festival de Cinema de Gramado, conquistou agora seu primeiro Kikito pela
atuação no drama policial “A Suspeita”, de Pedro Peregrino. Ela não pôde
participar virtualmente da cerimônia pois estava no casamento da filha Cleo. A
produtora Daniela Busoli representou a atriz e leu um depoimento de Glória em
agradecimento ao prêmio: “Parabenizo o festival pela sua 49ª edição
homenageando com muita justiça os profissionais do audiovisual brasileiro, essa
caminhada ininterrupta especialmente nesse momento é uma enorme inspiração.
Agradeço a Daniela Busoli e ao Leonardo Lessa por terem me recebido tão
generosamente nesse projeto criado por Luis Eduardo Soares e dirigido pelo
grande parceiro de tantas aventuras criativas Pedro Peregrino. Agradeço a cada
profissional que trouxe sua criativa contribuição ao projeto, especialmente a
nossa montadora Joana Collier. A vida é feita de encontros e fazer cinema é
reproduzir a vida contando histórias que nos fazem questionar e buscar saídas
mesmo quando não parece haver uma”.
Filme uruguaio “La Teoría de Los Vidrios
Rotos” vence entre os estrangeiros
A coprodução entre Brasil e Uruguai “La
Teoría de Los Vidrios Rotos” venceu o melhor filme de longa-metragem
estrangeiro desta edição. Na comédia, o protagonista Claudio Tapia (Martín
Slipak) é perito de uma seguradora e foi enviado até uma cidade do interior
uruguaio para desvendar uma misteriosa série de incêndios em carros. Além do
Kikito de melhor filme, a produção recebeu também o voto do júri popular.
“Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky,
recebeu os outros dois Kikitos da mostra: júri da crítica e também um prêmio
especial do júri oficial “pela abordagem de temas tão presentes em nossa
sociedade, que refletem as consequências de um sistema corrompido e afetam
diretamente os valores humanos; e pelas interpretações das protagonistas
femininas que representam a força das mulheres latinas em nosso cinema”.
Documentário “Cavalo de Santo” leva o Kikito
de melhor filme entre os longas gaúchos
O documentário “Cavalo de Santo”, que traz
um retrato do universo religioso afro-brasileiro no Rio Grande do Sul, foi
eleito o melhor filme entre os longas-metragens gaúchos. O filme é baseado no
livro da diretora Mirian Fichtner que passou dez anos pesquisando em terreiros
sobre o tema no estado. “Cavalo de Santo” é o primeiro filme do casal Mirian
Fichtner e Carlos Caramez, que também levou os prêmios de melhor filme pelo
júri popular, melhor roteiro e melhor trilha musical.
Entre muitos beijos de comemoração, o casal
agradeceu emocionado. “Pra mim tá sendo uma emoção muito grande, é nosso
primeiro trabalho. Quero dedicar ao povo de Santo, de religião, sem eles a
gente não estaria aqui”, comemorou Mirian. “Quero dedicar esse prêmio pra
Mirian, ela fez todos os méritos desse trabalho. Sem ela não teria esse filme.
O batuque é uma coisa que só existe no Rio Grande do Sul e vocês terem
valorizado isso.. a gente quer agradecer e está emocionado mesmo”, agradeceu
Carlos Caramez.
Gilson Vargas foi eleito o melhor diretor
por “A Colmeia”. Além dos Kikitos, todos os vencedores receberam valores em
dinheiro oferecidos pela Secretaria da Cultura do Estado (SEDAC),por meio do
Instituto Estadual de Cinema (Iecine),somando R$ 55 mil.
Produção paraibana “A Fome de Lázaro” é o
melhor filme de curta-metragem brasileiro
Contando sobre a oferenda de banquetes a
cães em promessa à São Lázaro em uma pequena comunidade do interior da Paraíba,
o curta “A Fome de Lázaro”, de Diego Benevides, conquistou o prêmio de melhor
filme entre os curtas-metragens brasileiros desta edição.
“Não sei nem o que dizer… tô muito feliz queria agradecer a minha equipe
que acreditou no projeto, ao Sítio dos Monteiros e todos os personagens que
trouxeram vida ao filme. Muito importante a gente estar trazendo esse prêmio
para o nosso estado, que a gente está a cada dia reinventando o cinema”,
agradeceu Benevides.
A produção paulista “Entre Nós e o Mundo”,
de Fabio Rodrigo, saiu da premiação com quatro Kikitos: melhor direção, melhor
montagem, prêmio especial do júri e melhor filme eleito pelo júri da crítica.
Homenagem ao Cinema, música e emoção no
palco do Palácio dos Festivais
A cerimônia foi transmitida direto de
Gramado e teve apresentação das jornalistas e apresentadoras oficiais do evento
Marla Martins e Renata Boldrini. A banda local Jazz Cinnamon embalou a trilha
musical com temas de filmes nacionais.
No momento “in memorian”, a emoção foi
grande com a lembrança de nomes como Tarcísio Meira, Paulo José, Paulo Gustavo,
Nicete Bruno, Eduardo Galvão e Artur Xexéo que partiram no último ano.
Encerrando a cerimônia, uma homenagem a
todos os realizadores do audiovisual brasileiro veio em forma de clipe com
imagens de bastidores e grandes cenas do cinema com locução do ator Lázaro
Ramos: “É preciso seguir em frente, esse tempo de trevas vai passar”, diz a voz
do ator.
O clipe encerra com o desejo de todos para
o ano que vem: “O cineasta brasileiro Humberto Mauro disse certa vez uma frase
que ficou célebre: cinema é uma cachoeira e a força dessa corrente não tem quem
consiga parar. Muito obrigado por ter tomado mais um banho de cinema com a
gente nesta 49ª edição, nos encontramos em 2022 para festejarmos juntos o
cinquentenário do Festival de Cinema de Gramado”.
A cerimônia está na íntegra no link
https://www.youtube.com/watch?v=tKYSZWFFeoo.
CONHEÇA OS VENCEDORES DO 49º FESTIVAL DE
CINEMA DE GRAMADO
CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor Filme – “A Fome de Lázaro”, de Diego
Benevides
Melhor Direção – Fabio Rodrigo, por “Entre
Nós e o Mundo”
Melhor Ator – Lucas Galvino em “Fotos
Privadas”
Melhor Atriz – Tieta Macau em “Quanto Pesa”
Melhor Roteiro – Marcelo Grabowsky, Aline
Portugal e Manoela Sawitzki, por “Fotos Privadas”
Melhor Fotografia – Rodolpho Barros, por
“Animais na Pista”
Melhor Montagem – Caroline Neves, por
“Entre nós e o Mundo”
Melhor Trilha Musical – Eli-Eri Moura, por
“Animais na Pista”
Melhor Direção de Arte – Torquato Joel, por
“A Fome de Lázaro”
Melhor Desenho de Som – Breno Nina, por
“Quanto Pesa”
Melhor Filme pelo Júri Popular –
“Desvirtude”, de Gautier Lee
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “Entre
Nós e o Mundo”, de Fábio Rodrigo
Prêmio Especial do Júri – Fabio Rodrigo,
por “Entre Nós e o Mundo” por responder de forma consciente em termos
estéticos, afetivos e narrativos a pergunta “Como falar da dor da perda e ainda
ter esperança?”.
Menção honrosa da Comissão Julgadora para
os curtas brasileiros vai para o filme “A Beleza de Rose”, de Natal Portela,
por fazer um delicado recorte da vida de muitas mulheres negras no nordeste do
Brasil.
Prêmio Canal Brasil de Curtas – “A Beleza
de Rose”, de Natal Portela
LONGAS-METRAGENS ESTRANGEIRO
Melhor Filme – “La Teoría De Los Vidrios
Rotos”, de Diego Fernández Pujol
Melhor Filme Júri Popular – “La Teoría De
Los Vidrios Rotos”, de Diego Fernández Pujol
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “Planta
Permanente”, Ezequiel Radusky
Prêmio Especial do Júri – Pela abordagem de
temas tão presentes em nossa sociedade, que refletem as consequências de um
sistema corrompido e afetam diretamente os valores humanos; e pelas
interpretações das protagonistas femininas que representam a força das mulheres
latinas em nosso cinema. O Júri de Longas-metragens estrangeiros do 49º
Festival de Cinema de Gramado decidiu conceder o Prêmio Especial do Júri ao
filme “Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky.
LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
Melhor Filme – “Cavalo de Santo”, de Carlos Eduardo Caramez
e Mirian Fichtner
Melhor Direção – Gilson Vargas, por “A
Colmeia”
Melhor Ator – João Pedro Prates, por “A
Colmeia”
Melhor Atriz – Luciana Renatha, Alexia
Kobayashi e Veronica Challfom, por “Extermínio”
Melhor Roteiro – Carlos Eduardo Caramez,
por “Cavalo de Santo”
Melhor Fotografia – Bruno Polidoro, por “A
Colmeia”
Melhor Direção de Arte – Gilka Vargas e
Iara Noemi, por “A Colmeia”
Melhor Montagem – Joana Bernardes e Mirela
Kruel, por “Extermínio”
Melhor Desenho de Som – Gabriela Bervian,
por “A Colmeia”
Melhor Trilha Musical – Cânticos Sagrados
dos Orixás preservados pelos Terreiros gaúchos e Alabê Oni, por “Cavalo de
Santo”
Melhor Filme pelo Júri Popular – “Cavalo de
Santo”, de Carlos Eduardo Caramez e Mirian Fichtner
LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
Melhor Filme – “Carro Rei”, de Renata
Pinheiro
Melhor Direção – Aly Muritiba, por “Jesus
Kid”
Melhor Ator – Nando Cunha, em “O Novelo”
Melhor Atriz – Glória Pires, em “A
Suspeita”
Melhor Roteiro – Aly Muritiba, por “Jesus
Kid”
Melhor Fotografia – Bruno Polidoro, por “A
Primeira Morte de Joana”
Melhor Montagem – Tula Anagnostopoulos, por
“A Primeira Morte de Joana
Melhor Trilha Musical – Dj Dolores, por “Carro
Rei”
Melhor Direção de Arte – Karen Araújo, por
“Carro Rei”
Melhor Atriz Coadjuvante – Bianca Byington,
por “Homem Onça”
Melhor Ator Coadjuvante – Leandro Daniel
Colombo, por “Jesus Kid”
Melhor Desenho de Som – Guile Martins, por
“Carro Rei”
Melhor Filme pelo Júri Popular – “O
Novelo”, de Claudia Pinheiro
Melhor Filme pelo Júri da Crítica – “A
Primeira Morte de Joana”, de Cristiane Oliveira
Prêmio Especial do Júri para Matheus
Nachtergaele, em “Carro Rei”, pela construção e domínio do personagem e pela
brilhante capacidade de se reinventar.
Menção honrosa para Fernando Lufer, Michel
Gomes, Victor Alves, Kaike Pereira, Pedro Guilherme e Caio Patricio por seu
talento e potência em “O Novelo”.
Menção honrosa para Isabél Zuaa pela bela e
impactante atuação em “O Novelo”
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