O homem do povo José Rodrigues da Silva nos
deixou na última quinta-feira, aos 82 anos, mais ou menos como atravessou toda
a sua existência: envolto em uma aura de dignidade silenciosa. O cidadão cuja
voz pausada só era ouvida quando havia algo a ser dito, e que não poderia ser
silenciado, se manteve em plena atividade como sindicalista durante todo o
período em que esteve gravemente doente.
A morte de José Rodrigues assinala o final
de uma era, a das lideranças do movimento social formadas por clérigos
católicos nos anos 1960 e 1970. Sob liderança dos papas João XXIII e Paulo VI e
suas encíclicas progressistas, a Igreja abandonou sua história de alinhamento
com os poderosos e fez opção preferencial pelos pobres, focando o homem em sua
dimensão integral, na relação com o transcendente, mas sem esquecer a vida na
Terra, o tempo presente.
Uma das formas de atuação da Igreja foi
ajudando a formar líderes capazes de organizar as mobilizações dos
trabalhadores na luta por terra, trabalho e pão.
Com suas habilidades inatas e o treinamento
recebido, José Rodrigues se elegeu presidente do sindicato de sua Bom Jardim
natal em 1965, tornou-se dirigente da Fetape em 1975. A partir de 1979, fez história como
presidente da Federação. Sem perder o jeito manso, organizou greves de até 200 mil homens e
mulheres, trabalhadores na palha da cana e alcançou conquistas históricas que
resultaram em melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores.
Era um tempo difícil, no qual a violência
dos jagunços e dos agentes do estado era a única resposta para a questão
social. José Rodrigues integrou a geração que pôs a própria vida em risco para
refundar o movimento sindical do campo, enfrentando a tenebrosa repressão.
Como jornalista e como cidadão acompanhei a
trajetória de Zé Rodrigues e testemunhei momentos de grande tensão, nos quais
ele mostrou coragem, firmeza e compromisso com os trabalhadores, sob ameaça da
repressão.
Tive oportunidades de publicar, junto com
Gilson Oliveira, um longo depoimento de Zé no livro Memórias da Luta Camponesa,
publicado em 2014. Foi uma das muitas entrevistas que fiz com ele ali, na sede
da Fetape, na Gervásio Pires.
Homem de muitas virtudes, José Rodrigues se
notabilizou pela firmeza, pela constância e pela resiliência, características
de quem nunca se rende e nunca esquece seus compromissos. Chefe de família exemplar, não deixou
herança, mas legou aos filhos e aos companheiros de militância um nome honrado
e uma história de dedicação à causa.
Por: Evaldo Costa-Jornalista/Diário de
Pernambuco
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