O conteúdo a seguir foi originalmente
publicado na edição nº 264 da revista BOA VONTADE, de outubro de 2021. Para
conferir a publicação, que é gratuita, clique aqui.
Com evasão escolar zero, unidades da LBV
mostram como o acolhimento tem sido fundamental para os estudantes
Desde o início de agosto, quem entrou nos
espaçosos pátios do Conjunto Educacional Boa Vontade, na capital paulista, já
pôde ver os alunos se espalhando pelo lugar, alegres, brincando ou fazendo
atividades esportivas, não ainda como antes, pois há todo um rigoroso cuidado
da equipe da LBV, a fim de manter o distanciamento tão importante para evitar o
contágio da Covid-19.
Talvez o que não se possa imaginar ao
observar cenas como essas é que, apesar da pouca idade, muitos deles viveram
situações difíceis em seus lares, neste longo período de aulas remotas (mais de
1 ano e meio), que ainda continuam em modalidade de revezamento com as aulas
presenciais.
Pesquisadores da área médica, por sinal,
não se cansam de alertar que é um grande erro subestimar os sentimentos de
crianças, adolescentes e jovens, que também enfrentaram sérias restrições
impostas pela crise sanitária do novo coronavírus. Ansiedade, solidão, medo e
apatia são algumas das palavras incorporadas no vocabulário dessa gente nova,
cujos sentimentos merecem atenção, a fim de que não haja traumas e repercussões
no futuro.
Atenta a esse cenário, desde o início da
pandemia, as equipes das escolas da rede de ensino da Legião da Boa Vontade têm
trabalhado nas cinco unidades escolares de Educação Básica da Instituição (em
Belém/PA, Brasília/DF, Curitiba/PR, Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP) para
minimizar o impacto dessas emoções, vividas com intensidade ainda maior pelas
famílias mais pobres, que tiveram dificuldades para se alimentar, estudar e
mesmo ter acesso a coisas simples, como espaços minimamente estruturados.
Com a retomada do ensino presencial, ainda com
rodízio das turmas, em algumas unidades de sua rede, seguindo todos os
protocolos sanitários definidos pelas autoridades de cada cidade, manteve a
capacitação de seus profissionais, para que eles estivessem bem e preparados
para receber os estudantes e seus familiares.
Edição nº 264 da revista BOA VONTADE, de
outubro de 2021.
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Além disso, é de se destacar o fato de a
LBV ter conseguido finalizar o ano de 2020 com evasão escolar zero, em plena
crise da Covid-19, que infelizmente tirou 4 milhões de estudantes brasileiros,
entre 6 e 34 anos, dos bancos escolares, conforme revelou a pesquisa do C6
Bank/Datafolha, realizada de 30 de novembro a 9 de dezembro do ano passado.
Na reportagem na unidade da LBV na capital
paulista, é possível conferir também as dicas de educadores e psicólogos da
Entidade para facilitar a readaptação dos educandos à rotina escolar, para que
perdas, ou mesmo o luto vivido, sejam superados com afeto.
Vivian R. Ferreira
São Paulo, SP — A retomada do ensino presencial, ainda com rodízio das turmas, segue todos os protocolos sanitários definidos pelas autoridades de cada cidade, mantendo a capacitação de seus profissionais para que eles estejam bem e preparados para receber os estudantes e seus familiares.
LBV: um porto seguro para alunos, pais e
professores
Nada como o afeto e o acolhimento para conseguir encontrar a tranquilidade interna ao enfrentar os incômodos e medos que as incertezas nos apresentam. Por isso, essa tem sido a diretriz principal das escolas da Legião da Boa Vontade, que, antes de dar início às ações presenciais com os estudantes, manteve o diálogo com educadores por meio de capacitações não apenas dos profissionais da rede da LBV, mas também de profissionais de redes públicas, atendendo a convite, como os da Secretaria Municipal de Educação de Capão Bonito/SP, buscando reconhecer os problemas enfrentados com o isolamento social e entender as preocupações de professores e educandos.
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VONTADE
Vivian R. Ferreira
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São Paulo, SP — A retomada do ensino presencial, ainda com rodízio das turmas, segue todos os protocolos sanitários definidos pelas autoridades de cada cidade, mantendo a capacitação de seus profissionais para que eles estejam bem e preparados para receber os estudantes e seus familiares.
Nada como o afeto e o acolhimento para conseguir encontrar a tranquilidade interna ao enfrentar os incômodos e medos que as incertezas nos apresentam. Por isso, essa tem sido a diretriz principal das escolas da Legião da Boa Vontade, que, antes de dar início às ações presenciais com os estudantes, manteve o diálogo com educadores por meio de capacitações não apenas dos profissionais da rede da LBV, mas também de profissionais de redes públicas, atendendo a convite, como os da Secretaria Municipal de Educação de Capão Bonito/SP, buscando reconhecer os problemas enfrentados com o isolamento social e entender as preocupações de professores e educandos.
Suelí Periotto é supervisora da Pedagogia
do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico e responsável pelas unidades da
rede de ensino da LBV. Doutora e mestre em Educação pela PUC-SP, também atua
como conferencista.
“Com formatos diferenciados em cada cidade
onde temos unidade da rede de ensino da LBV, prosseguimos com as aulas remotas
e com o escalonamento presencial sendo introduzido, aos poucos, mediante a
realidade e as orientações educacionais dos órgãos legais de cada local”,
ressalta a professora Suelí Periotto, superintendente educacional da Legião da
Boa Vontade, supervisora da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão
Ecumênico — que compõem a linha educacional criada pelo diretor-presidente da
LBV, José de Paiva Netto, aplicada nas escolas da Instituição.
De acordo com ela, “tudo foi e ainda está
sendo adaptado e planejado, mediante a realidade de cada local, com a
competência dos profissionais de Educação nos cuidados daqueles que aplicam a
linha pedagógica do educador Paiva Netto, que orienta a termos uma visão
integral do indivíduo, de forma que este seja enxergado não apenas em seu
aspecto cognitivo, mas também físico, emocional e espiritual. Assim vamos
acolhendo as famílias que muito sofreram e ainda enfrentam inúmeros desafios”.
Na verdade, esse retorno tem cumprido o
planejamento da organização em não deixar ninguém de fora, executado desde o
início dessa crise sanitária: “Os vínculos reforçados a cada dia nas aulas à
distância são mais fortemente expandidos no contato pessoal, daí nosso
principal foco ser acolher cada grupo de alunos que chega, devolvendo-lhes o
ânimo e demonstrando quanto nos preocupamos com o desenvolvimento intelectual
deles, para que avancem academicamente, sendo primordial que sintam o desejo
dos profissionais de vê-los bem, com a saúde mental em equilíbrio, com a
esperança de que dias melhores dos que os que atravessaram estão por vir”.
Diego Ciusz
Toda essa mudança de postura só é possível com muito diálogo, destaca Suelí: “Vamos conversando com eles e deixando claro que não têm culpa do tempo que foi necessário ficar longe da escola, que não exigiremos mais do que são capazes de oferecer e que não haverá problema revisar conteúdos até que possam apreendê-los satisfatoriamente”.
Aos poucos, os professores vão mensurando o
aproveitamento do conteúdo pedagógico que cada estudante recebeu remotamente
neste período atípico de pandemia, utilizando estratégias assertivas, muitas
vezes individuais, para recuperar possíveis déficits na aprendizagem. Segundo
a supervisora da Pedagogia da LBV, “em paralelo à aplicação do planejamento das
aulas, estabeleceu-se uma contínua análise comportamental das crianças e dos
jovens, que tem sido feita por profissionais da Psicologia Escolar e
orientadores educacionais nas faixas etárias diversificadas dos educandos; além
disso, as propostas lançadas pelos professores não são apenas voltadas ao
pedagógico, de modo que os alunos sintam quanto entendemos suas inseguranças e
que sempre haverá total atenção da escola com o seu bem-estar, principalmente
para que eles não se sintam sozinhos”.
Diego Ciusz
José Gonçalo
Foi entendendo essa relação da faixa etária com o cotidiano desse “novo normal” que a equipe do Conjunto Educacional Boa Vontade (que compreende a Supercreche Jesus e o Instituto de Educação José de Paiva Netto) montou diferentes estratégias. Em comum, nessa escola que possui cerca de 1.500 alunos, do berçário ao Ensino Médio, a alegria e a vontade de estar novamente na sala de aula.
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VONTADE
Com o convívio presencial nos ambientes da
escola, pode-se perceber nas falas de muitos educandos, especialmente daqueles
vindos de lares vulneráveis, a falta que o convívio e a estrutura escolar
causou no período de isolamento social: “Em casa não bate sol, aqui me sinto
feliz”; “Que saudade do pãozinho e dos aniversariantes do mês”; “Eu quero mais
aulas de debate, quero falar”.
Vivian R. Ferreira
Carolina Campos, professora de Português e Ciências do 4º ano do Ensino Fundamental, afirma que, a exemplo de outros profissionais da escola, percebeu que esse tem sido um momento em que os educandos querem ser ouvidos. “Eles desejam compartilhar os acontecimentos da vida, sejam bons ou ruins. Estão carentes de elogio, motivação, de valorização e validação. Hoje, eu sinto que estão inseguros, o que é mais do que normal e esperado [em virtude de tudo o que passaram]”.
Uma das saídas encontradas pelos professores,
sem deixar de lado as questões acadêmicas, foi reservar um tempo dentro do
planejamento diário (com o nome de “pausa”) para que os alunos da classe
compartilhem assuntos que os interessam. “Sempre presto muita atenção e
demonstro interesse, converso mesmo... Eu vibro nas participações, nas
respostas que eles dão, isso tem motivado bastante”, diz Carolina.
“Nas aulas remotas, me senti acolhida”
É estranho ouvir de pessoas tão jovens
queixas como: solidão, tristeza, saudade dos amigos... A maioria deles teve de
conviver com esses sentimentos, seja em menor ou maior grau, neste período
atípico. Por isso, os docentes da LBV, mesmo durante o ensino remoto,
encontraram maneiras criativas de se aproximarem mais dos estudantes, apesar da
distância física. “Eles adaptaram várias atividades, muitos trabalhos eu fiz em
vídeo, escrevi poemas, os professores exploravam aquilo que gostávamos de
fazer, utilizaram bastante a nossa parte artística. Isso fez com que nos
entendessem mais”, recorda Laís Vasconcelos Oliveira, 14 anos, do 8o ano do
Ensino Fundamental do Instituto de Educação José de Paiva Netto (IEJPN).
A compreensão das diferentes realidades é
outro ponto ressaltado pela jovem. “A escola sempre se esforçou para deixar
toda essa situação mais leve, os professores entendem se a casa do aluno não
tem internet ou se o celular está quebrado. Eles falavam para irmos ao
instituto pegar as lições. E diziam: ‘A gente consegue arrumar isso para você,
precisa de ajuda?’ Fiquei sabendo de diversas histórias de amigos meus que
enfrentaram cada perrengue na pandemia, e a escola amparou”.
Ela conta que, graças a esses diálogos,
feitos por meio de lives e conversas em aplicativos de mensagens, conseguiu
enfrentar alguns desafios. “Eu fiquei bastante ansiosa. O meu avô faleceu de
Covid-19 em outubro do ano passado, foi um baque. A minha avó também pegou a
doença e levou uns seis meses para se recuperar, por causa das sequelas. Eu
lembro que a minha mãe teve de ficar com ela, foi muito ruim, eu e minha irmã
ficamos distanciadas dela para evitar o contágio.”
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VONTADE
Segundo Laís, em meio a esses fatos
desafiadores, foi reconfortante ouvir dos professores: “‘Que saudade, como você
está?’ ou ‘Eu vi que está um pouco triste, a gente está aqui, pode falar’, isso
foi acolhedor”.
Laís também não esquecerá mais do dia do
retorno à escola: “A emoção de poder conversar, de não estar em uma tela de
celular, podendo ver os professores ali, os amigos, é uma coisa muito boa que
vou guardar”. A oportunidade de estar na sala de aula, renova a sua esperança:
“[Na escola,] a gente consegue pegar os conteúdos mais facilmente, os
professores estão revisando as matérias de uma forma muito legal, já
conseguimos avançar bastante”, conta.
“A gente nunca se sente desamparado na LBV”
Pesquisas mostram que estudantes aprendem
mais e melhor em ambiente de segurança emocional, estabelecendo relações de
confiança entre docentes e alunos. Para Eduardo Martins, 15 anos, que está no
9o ano do Ensino Fundamental do IEJPN, isso é uma grande verdade. Estudando na
escola da Instituição desde os 2 anos, disse que foi de onde “mais sentiu falta
na pandemia”.
Ele conta que, a partir do segundo semestre
de 2020, experimentou certa irritabilidade e que as disciplinas de Cultura
Ecumênica e de Convivência contribuíram para um maior autocontrole, à medida
que os professores os incentivavam a falar do que gostavam, das aspirações e
dos desejos. “Às vezes, as pessoas estão precisando de ajuda, e colocar isso
para fora é muito bom”, evidencia.
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VONTADE
Como
as dificuldades também nos fazem amadurecer, Eduardo soube bem tirar desses
acontecimentos bons ensinamentos: “Os conteúdos que temos na LBV não
encontramos em outras escolas. Eles me deram um grande autoconhecimento, me
ajudaram a entender o que estou sentindo e a encontrar formas de colocar para
fora. Às vezes por desenho, textos; outras, conversando com os amigos,
interagindo com a família. Eu sempre fui muito alegre, mas também explosivo, e
aprendi que posso, simplesmente, fazer o que gosto no momento em que estou
bravo, ou escrever algo, ouvir uma música para acalmar. Comecei a me relacionar
e conhecer melhor a minha mãe, conversar mais com ela, perguntar como foi o seu
dia de trabalho, e isso ajudou muito”.
Ao falar da Pedagogia da LBV, Eduardo foi
categórico: “Não é só a parte de Matemática, de Geografia, Biologia..., os
professores ajudam bastante na parte emocional. Na escola, sempre perguntam:
‘Você quer conversar, está tudo bem?’ A gente nunca se sente desamparada na
LBV, sempre tem o melhor apoio possível”, conclui.
Toda essa mudança de postura só é possível com muito diálogo, destaca Suelí: “Vamos conversando com eles e deixando claro que não têm culpa do tempo que foi necessário ficar longe da escola, que não exigiremos mais do que são capazes de oferecer e que não haverá problema revisar conteúdos até que possam apreendê-los satisfatoriamente”.
José Gonçalo
Foi entendendo essa relação da faixa etária com o cotidiano desse “novo normal” que a equipe do Conjunto Educacional Boa Vontade (que compreende a Supercreche Jesus e o Instituto de Educação José de Paiva Netto) montou diferentes estratégias. Em comum, nessa escola que possui cerca de 1.500 alunos, do berçário ao Ensino Médio, a alegria e a vontade de estar novamente na sala de aula.
Carolina Campos, professora de Português e Ciências do 4º ano do Ensino Fundamental, afirma que, a exemplo de outros profissionais da escola, percebeu que esse tem sido um momento em que os educandos querem ser ouvidos. “Eles desejam compartilhar os acontecimentos da vida, sejam bons ou ruins. Estão carentes de elogio, motivação, de valorização e validação. Hoje, eu sinto que estão inseguros, o que é mais do que normal e esperado [em virtude de tudo o que passaram]”.
Se nos demais níveis escolares já houve adaptações, na Educação Infantil o planejamento e o preparo das unidades de ensino da Legião da Boa Vontade têm sido redobrados. Turmas reduzidas, carteiras com distanciamento mediante o protocolo sanitário em vigor para as escolas, atividades ao ar livre, janelas sempre abertas, ambientes ainda mais vezes higienizados e uso contínuo de máscaras, tudo para oferecer segurança a pais, crianças e profissionais nos momentos presenciais na escola. Além disso, também pela legislação educacional, cabe aos responsáveis a opção de os pequeninos permanecerem com o ensino remoto.
Francisca emocionou-se ao falar da filha e das superações pelas quais a família tem passado nos últimos anos. Com a mudança de Manaus/AM, há cerca de oito anos, para a capital curitibana, em busca de melhores oportunidades de vida, ela e o esposo, Wallace Lopes da Silva, 35 anos, passaram por grandes privações com a surgimento de duas doenças no marido, a espondilite anquilosante (na coluna vertebral) e a fibromialgia, que o impedem de trabalhar. Se não bastasse a questão da saúde, com a pandemia, a empresa em que Francisca estava empregada fechou, e, a partir daí, ela passou a sustentar o lar com pequenos serviços de autônoma.
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