Estratégia do vice, que poderá assumir a
presidência em um possível afastamento da presidente, é unificar a bancada do
PMDB da câmara, dividida ao meio sobre a escolha do seu líder.
BRASÍLIA - Numa
"guerra fria" em que o rompimento se mostra iminente, a presidente
Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, definiram estratégias distintas para
enfrentar o processo de impeachment. No roteiro do vice - que assumirá a
Presidência num eventual afastamento de Dilma - o ponto principal é a
unificação da bancada do PMDB da Câmara, dividida ao meio pelos vaivens sobre a
escolha do seu líder.
No campo oposto, o
Palácio do Planalto aumenta a pressão sobre os deputados da bancada
peemedebista que detêm cargos do governo federal, sobretudo nos Estados. As
ameaças lado a lado serão cada vez mais frequentes.
Na conversa que tiveram
na noite de quarta-feira, Temer e Dilma afirmaram que buscariam uma convivência
"profícua". No entanto, o vice deixou claro que vai se dedicar ao
comando do PMDB. Segundo aliados do vice, se Dilma buscar fustigá-lo dentro da
sigla, Temer vai promover uma convenção do partido para consolidar o rompimento
com o governo.
Antes, porém, o vice
almeja unificar a bancada do partido em torno do seu nome.
Depois, pretende atrair
para sua órbita outros partidos da base do governo, como PSD, PR, PTB e PP. O
arremate da tática é forçar a saída dos ministros peemedebistas remanescentes
na Esplanada.
Segundo relatou ao
Estado um auxiliar do vice-presidente, a estratégia inicial é
"consolidar" a força de Temer na Câmara. "Esse é o primeiro
passo, pois temos certeza de que, se houvesse uma convenção nacional do partido
agora, a tese do rompimento venceria de lavada", disse. Hoje, no entanto,
o Planalto ainda exerce muita influência na bancada. "A caneta ainda está
com a Dilma", afirma um deputado peemedebista da ala governista.
O mesmo se reproduz em
outros partidos da base aliada. "É por isso que está todo mundo de olho no
PMDB. Se de fato o partido se unir e romper em favor do impeachment, os demais
partidos da base vão fazer o mesmo", conta um dirigente do PP que tem
participado das conversas com o grupo de Temer. "Podemos ir até o velório,
mas ninguém vai querer ser enterrado com o governo."
A divulgação da carta a
Dilma em que reclama de falta de confiança foi o primeiro passo de Temer em
favor do rompimento. Depois, os aliados mais próximos do vice articularam a
troca do líder do PMDB na Câmara. Tachado como "demasiadamente
governista", Leonardo Picciani (RJ) foi trocado por Leonardo Quintão (MG).
Agora, Picciani quer dar o troco em Quintão com alterações na bancada.
A decisão foi tomada
após apresentação de uma lista à Mesa Diretora da Câmara com o apoio de 35 dos
66 deputados em favor de Quintão. O Palácio do Planalto vai tentar reverter
essa decisão. Alguns deputados, que detêm cargos federais em seus Estados,
começaram a ser pressionados a voltar atrás e assinar uma nova lista para
Picciani reconquistar a liderança.
"Se fizerem isso,
vamos reagir com a convocação da convenção nacional e promover o rompimento
definitivo com o governo", diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
"Não será tolerada nenhuma ação agressiva do Planalto sobre a bancada.
Temos capacidade de pensar o que é melhor para o Brasil."
Após garantir a união
dentro do PMDB, o próximo passo do grupo de Temer é pressionar a demissão dos
ministros ligados à bancada do PMDB. Indicados por Picciani, Marcelo Castro
(Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) já adiantaram que vão tentar
resistir. Castro chegou a dizer que se fosse preciso voltaria ao cargo de
deputado para ajudar Picciani voltar à liderança.
Com origem na Câmara,
mas garantido no cargo graças a Temer, o ministro Henrique Eduardo Alves
(Turismo) tem dito publicamente que vai trabalhar para que não haja rompimento
com Dilma. Contudo, a interlocutor próximo, já disse que fica no cargo "só
até a hora que o Michel quiser".
As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo - Estadão Conteúdo
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