terça-feira, 2 de agosto de 2022

CONVENÇÕES DA OPOSIÇÃO MOSTRARAM QUE O PSB ACUMULOU DÍVIDAS DEMAIS E O BOLETO ESTÁ SENDO ENTREGUE

Em dois dias, quatro enormes convenções de ex-aliados do PSB, todos agora contra o PSB, mostram um cenário de isolamento para os socialistas

A estética de todas as convenções é como uma caricatura do grupo que está ali sendo oficializado. Locutores gritando como se estivessem narrando um rodeio ou uma vaquejada, militantes transportados em ônibus, gritando os nomes dos candidatos e discursos guturais, típicos de generais, animando a tropa que em alguns minutos vai à linha de frente desviar de balas. É meio brega, meio coisa das cavernas, mas funciona pra animar o início dos trabalhos de uma campanha eleitoral.

Se a militância não estiver animada, não tem dinheiro que resolva e muitas candidaturas cheias de dinheiro descobriram isso ao longo dos anos. Pela convenção, tem-se uma ideia de até onde o candidato pode chegar. Desse fim de semana, com as quatro convenções da oposição, quase uma "Super Terça" da eleição americana transplantada para dois dias pernambucanos, pode-se dizer que todos os protocolos foram cumpridos. Teve breguice, teve discurso gutural, teve militantes atravessando o estado em ônibus para gritar o nome do candidato, mas ficou claro, principalmente, que todos têm condição de avançar a um segundo turno nesta eleição.

O que, por si, é a primeira derrota do PSB no estado. Os socialistas ainda nem fizeram seu evento, mas já tiveram uma primeira derrota. Das quatro candidaturas que se lançaram nas últimas horas, todos os grupos estavam na Frente Popular até Eduardo Campos morrer em um acidente aéreo. Sim, todos. Anderson Ferreira comandava o antigo PR (hoje PL) como aliado do PSB. Marília Arraes, Raquel Lyra e Miguel Coelho não eram apenas aliados, eles eram o PSB. Todos foram saindo ou "sendo saídos" por problemas maiores ou menores na condução do partido que entrou em uma guerra interna por poder.

Quem duvidar que o PSB não vive em conflito, procure saber como anda a relação do ex-prefeito Geraldo Julio (PSB) com o governador Paulo Câmara (PSB). A informação, até a semana passada, era que eles nem dividem o mesmo espaço e nem se dirigem a palavra. Em todo o período pré-eleitoral, o que mais se ouvia era que a oposição iria ter que diminuir o número de candidaturas, porque não dava pra se “esfarelar em quatro palanques para enfrentar a máquina socialista”. Enganou-se quem pensou assim e o engano originou-se na crença de que o PSB estaria unido.

Ao que parece, é a sigla de Eduardo Campos que hoje está esfarelada. Não haveria quatro candidaturas na oposição se alguma delas não fosse competitiva. E o fato de todas serem competitivas mostra que a soberba obrigou o PSB ao erro de ignorar isso quando afastou esses que hoje são candidatos na linha adversária. Não cabiam quatro palanques na oposição, mas o PSB fez caber. Um poderia se destacar e os outros seriam meros coadjuvantes, mas o PSB reforçou cada um deles. Perseguir Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (UB) por serem prefeitos de oposição os fez crescer na adversidade e serem adorados regionalmente por terem vencido na dificuldade imposta por inimigos.

O PSB construiu uma jornada de herói para cada um. Obrigar Marília Arraes (SD) a trocar de partido duas vezes a transformou num tipo de nêmesis obstinada e armada com a solidariedade popular. Tentar isolar Anderson Ferreira (PL), como se ele fosse "apenas" um possuidor de voto de nicho, evangélico, no caso, enquanto também o discriminava na prefeitura, o obrigou a ancorar-se num palanque que, se carrega a rejeição de Bolsonaro, também é dos que têm o voto mais resistente e difícil de tirar.

É simbólico que todas as convenções da oposição tenham acontecido quase juntas no fim de semana e que o PSB só faça a sua no dia 5 de agosto. É apenas calendário e não há nada de especial como fato, mas até isso tem conotação de isolamento. É natural que o PSB vá fazer uma grande convenção na próxima sexta-feira (5). Vai ser grande, colorida, vai ter discurso gutural com o candidato Danilo Cabral (PSB) gritando pela vitória, vai ter menção a Lula (PT), a corda única na qual resolveram se apegar e descobriram que é de papel, haverá militantes, vai ter tudo que a estética cafona de uma convenção exige.

Mas é certo que o PSB partirá com uma desvantagem. Quatro aliados desprezados viraram candidatos na oposição e os quatro, cada um com sua força, com sua região ou com seu discurso, acabam se complementando. Desde a morte de Eduardo, o PSB foi comprando no crédito as brigas que achava que tinha força para acumular. Os boletos chegaram, todos de uma vez, num único fim de semana.

Por/Igor Maciel - JC ONLINE

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