sábado, 27 de julho de 2019

MANUELA D'ÁVILA, VICE DE HADDAD, FEZ PONTE ENTRE HACKER E JORNALISTA

Em depoimento à Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, 30, um dos quatro presos na terça (23) sob suspeita de ter hackeado celulares de autoridades, afirmou que obteve o contato do jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada Manuela d'Ávila (PC do B).

Em nota, Manuela disse que, em 12 de maio, foi informada pelo Telegram de que sua conta foi invadida. Logo depois, recebeu uma mensagem de uma pessoa dizendo que tinha provas de atos ilícitos cometidos por autoridades.

"Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza", diz o texto.

A ex-deputada afirma que repassou o contato de Greenwald e que desconhece a identidade de quem invadiu seu celular. Disse que vai entregar cópias das mensagens à Polícia Federal e que está à disposição para prestar esclarecimentos e para entregar seu aparelho para perícia.

Segundo Delgatti, os arquivos foram enviados ao Intercept por meios eletrônicos e a equipe do site não o conhece.

Delgatti afirmou que entrou no Telegram do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas que não tem registros desse ataque. O suspeito negou que tenha acessado as contas do aplicativo da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), do ministro da Economia, Paulo Guedes, ou de outras autoridades do governo.

Conforme o depoimento, Delgatti disse que os outros três suspeitos presos pela PF --Gustavo Henrique Elias Santos, 28, Suelen Oliveira, 25, e Danilo Marques, 33-- são seus amigos de infância e em nenhum momento repassou a eles a técnica usada para invadir os telefones. Nesta sexta, a Justiça prorrogou as prisões por mais cinco dias.

De acordo com a PF, Delgatti tem colaborado com as investigações. Os policiais, contudo, veem contradições no seu depoimento.

Eles apontam que a investigação tem um número muito maior de vítimas do que o Delgatti confessou --há cerca de mil alvos.

Ele também diz que não hackeou Paulo Guedes, mas um dos seus celulares de estava aberto na conta do ministro no momento da operação, na terça.

Segundo as leis brasileiras, não cabe punição a uma pessoa que se omitiu ao tomar conhecimento de um ato ilícito. Nesse caso, mesmo que soubesse que um hacker tivesse cometido um crime, Manuela não poderia ser penalizada por ter deixado de denunciar o caso. Segundo o entendimento jurídico, também não consiste ilicitude o fato de ela ter intermediado o contato entre Delgatti e Greenwald.

O jornalista disse que a fonte que repassou conversas ao site afirmou que não pagou pelos dados nem pediu dinheiro a ele em troca do material.

Nesta sexta, Greenwald revelou à revista Veja trechos de diálogo que manteve com a pessoa que repassou as mensagens vazadas. Ele afirmou que um dos primeiros contatos com a fonte aconteceu no início de maio deste ano e que foi apresentado a ela por um intermediário. Todos os contatos, afirmou, foram virtuais.

O diálogo publicado pela Veja ocorreu dias antes da primeira reportagem do Intercept com os vazamentos, em 9 de junho. Na conversa divulgada, Greenwald pergunta à fonte se ela leu reportagem da Folha de S.Paulo a respeito da invasão por um hacker do celular de Moro. A pessoa negou que fosse o responsável pelo ataque ao aparelho do ministro.

A fonte não revelada diz a seguir que seu modo de agir era diferente do citado naquele caso. "Nunca trocamos mensagens, só puxamos [o conteúdo]", escreveu.

O jornalista e o Intercept têm dito que não vão se manifestar confirmando se foi Delgatti quem repassou os dados porque não fazem comentários sobre suas fontes.
Do Folhapress     

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