segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DINHEIRO VOADOR - PF APREENDE R$ 116 MIL EM AERONAVE CUJOS PASSAGEIROS TÊM LIGAÇÕES COM O PT

Os planos de voo fazem a polícia suspeitar que o recurso possa ser caixa 2 de campanha.

No início da noite da terça-feira 7, o turboélice King Air prefixo PR-PEG que havia partido de Belo Horizonte alcançou a cabeceira do aeroporto internacional de Brasília. Ao abordar a aeronave, a Polícia Federal encontrou R$ 116 mil em cédulas de R$ 100 e R$ 50 distribuídos em sacolas e mochilas. Três passageiros foram detidos: o empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, conhecido operador do PT mineiro, o segurança Pedro Medeiros e o jornalista Marcier Trombiere, ex-assessor do Ministério das Cidades, indicado pelo PP. Em depoimentos marcados por lacunas e contradições, alegaram que o dinheiro seria pagamento por serviços à campanha de Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais. Mas não apresentaram qualquer recibo ou nota fiscal. A PF abriu inquérito para apurar o caso. Os elementos colhidos até agora indicam que quase nada do que disseram os três ocupantes da aeronave é verdade. E levantam a suspeita de que os valores seriam sobra de caixa 2 destinados à campanha de Dilma Rousseff.
Os investigadores já têm uma pista importante: o King Air não foi fretado pelo grupo. 

Registrado na Anac na categoria de “serviço aéreo privado”, em nome da empresa Bridge Participações, teria como verdadeiro proprietário o próprio Bené. A Bridge tem como presidente Ricardo Santos Guedes, um advogado de 38 anos que se apresenta como “representante” da Gráfica e Editora Brasil, que pertence ao empresário mineiro. Guedes, seu irmão Alexandre e Cleusa Centeno dos Santos, possível parente de ambos, participam da composição acionária de mais sete empresas de diferentes ramos, como publicidade e propaganda, mineração, construção civil e consultorias.

Apesar do “sucesso empresarial”, nenhum dos dois irmãos possui sequer um veículo, nem mesmo um carro popular. Cleusa, que tem em seu nome um Gol 1999, um Fiat 2000 e outro Gol 2012, não possui habilitação. Além disso, ela viveria numa casa de baixa renda localizada em Canoas (RS). Alexandre e Ricardo, por sua vez, têm endereço nos bairros Asa Norte e Sudoeste, em Brasília. Mas não foram localizados pela reportagem. Para a PF, eles seriam “laranjas” de Bené. Na opinião de uma autoridade ligada à investigação, registrar a aeronave em nome de uma empresa integrada por pessoas interpostas pode significar tentativa de ocultação de patrimônio.

O caso fica ainda mais complexo quando se analisa o relatório dos planos de voo registrados no prefixo PR-PEG do King Air de Bené. Vê-se que o turboélice cumpriu uma intensa agenda de campanha entre 14 de julho e 7 de outubro, e que cobriu o trecho entre Brasília e Belo Horizonte diversas vezes. O avião também percorreu o interior de Minas, usando pequenas pistas de pouso. Diferentemente dos jatos, o turboélice é uma aeronave versátil por ser capaz de pousar até em estradas de terra.

Alguns voos coincidem com comícios de Pimentel. Em 1º de agosto, por exemplo, o então candidato ao governo de Minas participou de comício em Montes Claros com a presença de Dilma e Lula. Os planos de voo também registram em agosto visitas às cidades mineiras de Juiz de Fora, Uberaba, Tatuí e Divinópolis. A PF agora quer confirmar quais voos de fato ocorreram, se possível saber quem embarcou e se houve transporte de valores em outras oportunidades.
Reportagem/Claudio Dantas Sequeira

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